terça-feira, 24 de maio de 2011

Insânia

Caros, Insânia foi escrito em uma semana e meia, foi um transe de criatividade que tive, é um livre que reúne todas as minhas influências, o realismo fantástico de Gabbo, o absurdo de Kafka, as tristezas de Heminghway, a busca da humanidade de Dostoiévski e a junção de palavras de Joyce.

Não me atreveria a tentar achar uma definição para o livro, nem mesmo um estilo, ele foi fruto da minha experiência (ou a falta de ) na política, no trato com seres humanos e em algumas teorias que eu defendo, pois eu mesmo criei.

Espero que gostem deste romance, ensaio, crônica ou sei lá o que, como falei, não arriscarei em definir.

INSÂNIA


Após seis dias sem comer Roger G. começou a sofrer e a sentir os efeitos da fome. A barba de seis dias coçava-lhe o rosto, suas unhas haviam crescido e uma sujeira se encruava por de baixo delas. A pele criara uma oleosidade que o calor de vinte e oito graus ajudava a agravar, tinha agora um aspecto de papel prateado, reluzente.
         Trajava apenas cuecas, já amareladas devido ao suor que havia se impregnado na costura virilhal, suas axilas exalavam algum odor quase indefinido, acro, repugnante, como queijo podre. Ele agora aguardava, os ossos estavam ao seu alcance, assim que elas aparecessem G. os atiraria nelas. Olhando agora para os ossos com alguns fiapos de carne e saliva ele conseguiu lembrar do gosto estranho que provara, quanto tempo estariam guardados na geladeira? Desde a última visita da mãe há dez dias? Roger G. não saberia precisar, era a única coisa que havia na geladeira, e o aspecto da carne, assim como o dele não era nada saudável.
A penumbra da tarde não entrava pelas parcas frestas inexistentes da cortina da janela, no seu apartamento hermético, no térreo, em uma área nem tão nobre de Mengálvia, na verdade a área pobre da cidade, perto do porto! Era possível acordar ali com o apito de navios e com cheiros que faria as pessoas de estômago mais frágil vomitarem. Era uma quarta-feira, belo dia para reagir! Pensou Roger, ninguém sai de casa numa quarta, ninguém bebe em bares numa quarta-feira, ninguém tem saco para ninguém numa quarta-feira. É o meio da semana que separa a droga da segunda e a subseqüêncial terça da alegria disfarçada da quinta e da euforia secreta da sexta e, posterior, o fim de semana celebrado como a libertação da rotina, seja ela qual for. É nos finais de semana que as pessoas são o que realmente são, de veados a putas, todos se tornam o que sempre foram, num fim de semana.
Ouviu agora um discreto barulho, eram elas? Empunhou um pequeno osso de galinha que já estava ao seu lado por algumas horas, a experiência de comer sobras não foi tão aterradora quanto ele pensou, seis dias são suficientes para derrubar velhos tabus, assim sendo o frango veio em boa hora, achava ter mais coisas de reserva, mas tinha somente bebidas em grande quantidade, colecionava-las em escala, bebia uma garrafa de qualquer coisa por dia em sua nova situação levantava-se apenas para as necessidades fisiológicas, e, ainda assim, quando estas eram iminentes.

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