terça-feira, 24 de maio de 2011

Tempo - Parte final


E Pôs-se a escrever um ofício dirigido a câmara dos vereadores para que votassem com regime de urgência a lei que igualava o tempo de Mengalvia ao resto do Mundo. Em caráter obrigatório mandou que a lei valesse no exato momento em que fosse aprovada. Achou que seria fácil, mas ainda demorariam oito semanas para que se aprovassem tudo, pois queriam ter a certeza de que receberiam o dinheiro correspondente aos cinco anos que seriam pulados no calendário. Depois de muita conversa, brigas de interesses e uma rodada para ver quem imaginava a coisa mais absurda com a água, foi reunida toda a população, na parte seca da cidade, foi feito um palco descomunal, houve jantares nababescos, pois alguns se deram conta de que poderiam morrer nesta passagem de tempo, e queriam despedir-se de todos os seus amigos, os espanhóis reivindicaram que queriam o seu rio artificial pronto, o Nacional reclamava que não poderia ter a revanche contra o Foot Ball, no que estes responderam que não se preocupassem pois nem em cinquenta anos conseguiriam ganhar deles, e erraram por apenas um ano. Quando a totalidade da população fez-se presente, o prefeito solenemente tomou a caneta entre os dedos, pairou-a no ar, e com ar nostálgico falou:
            - Damas e Cavalheiros, nos vemos em cinco anos!
            Depois que terminou de assinar, por um milésimo de segundo tudo ficou vazio.

            *                                                         *                                                         *

            No milésimo seguinte as coisas deram um salto temporal de cinco anos, e apareceram crianças que outrora haviam desaparecido, casais que nunca se haviam visto antes acordavam na mesma cama, filhos sumiam, mães em desespero faziam seus enterros simbólicos, e tempos depois chegavam cartas dizendo que por algum motivo foram parar na Europa para estudar, fortunas enterradas descobriam-se gastas por desespero, roupas novas estavam velhas e cheias de traça, velhos conhecidos se viam separados por alguma birra que não lembravam , centenas de bebês apareceram em casais que mal haviam começado a namorar, e outros tantos casais apaixonados descobriam-se com novos pares, casas novas viam-se em lugares onde antes só existia mato, novas lojas traziam a moda atual da Europa, o comércio quadruplicara, uma legião de gente desconhecida apareceu na cidade de um segundo para o outro, quando alguém teve a idéia de ver os jornais muita coisa se explicou, viu-se os registros jornalísticos e se descobriu que o Nacional havia perdido todos os últimos vinte jogos, que o Foot Ball, havia estado no país vizinho e vencido a seleção deles.
            Os Espanhóis se viram a doze metros de concluir o seu rio, o que encheu de raiva o conselheiro da aldeia, pegou sua pá, atirou-a com toda a força no chão.
            - Porra, não se pode mesmo confiar em políticos!
            Apenas uma coisa não mudou, a chuva que caia ininterrupta, mas já poucos se lembravam da brincadeira de materializar pensamentos, e quando os mais antigos diziam isso, eram internados no novo hospício que acabara de surgir perto da estação de trem que nunca tinha existido antes.
            Magalhães, despertou-se ao lado de uma mulher que parecia prometer beleza em seus traços de outrora, viu-se gordo ao extremo, com olheiras, careca no topo da cabeça, grisalho e assaltado pela bebida, olhou a janela e a chuva continuava, e só ai se deu conta, levantou-se descobriu que gastara seu dinheiro em farras e mulheres, bebidas e jogos, foi falar ao prefeito e descobriu este moribundo em sua cama, com a pata santa deformada pelo reumatismo, com algumas penas que ameaçavam nascer nos braços, a boca bicuda e uma voz gutural e lamuriosa.
            - E esta chuva que não passa Magalhães!

Como falei, achava eu que escrevia bem, mas se gostaram talvez eu disponibilize Insânia para que vocês leiam, foi o meu seundo romance!

Um abraço e obrigado pela audiência

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