terça-feira, 24 de maio de 2011

Tempo - Parte IV


Foi assim que se deu a moda de imaginarem as mais absurdas coisas para que tomassem forma, e cada um imaginou seres deslumbrantes, máquinas voadoras que o Senhor Magalhães tratava de copiar em papel que logo se desfazia devido a umidade, foram descobertas fortunas em famílias que se faziam de pobres, amantes em mulheres casadas, desejos reprimidos e guardados no foro mais intimo, pactos com o demônio, pervertidos sexuais, concubinas virgens e um diabo que deve ter sido imaginado demais, ganhou vida própria e saiu caminhando em direção ao rio, falando com voz diluída que moraria lá sem incomodar ninguém. Até que aconteceu o que o prefeito temia, perto da casa de uma das Senhoras da sociedade, tomou forma o corpo do prefeito nu, e descobriu-se que além dos pés de pato, o prefeito possuía uma penugem na virilha, e logo foi alvo de chacota, a cidade subdividiu-se naqueles que achavam que aquilo era uma imaginação encomendada e outros que realmente achavam que o prefeito virava ave aquática. E não faltaram oportunistas e inimigos que pagavam as pessoas para que imaginasse Facundo Mengalv Sobrinho Segundo com as partes anatômicas mais absurdas possíveis, quando se chegou a conversa ao extremo leste da cidade em forma de “U”, local habitado por espanhóis, Nicanor Luciz, o conselheiro do vilarejo argumentou:
            - Mande-os para cá, assim não temos que cavar um rio como idiotas!
            Era fato que fazia quase três meses que cavavam em meio ao pó do meio dia, ao desespero da uma, a angustia das duas, suavam no desespero das três, desidratavam ao alarde das quatro, choravam para beber suas lágrimas as cinco, desiludiam-se as seis, abandonavam tudo as sete e voltavam a fazer planos para o dia seguinte as oito, com essa lamurienta vida já haviam cavado quase dois quilômetros, só paravam a noite, para que os filhos, Jacinto, o autor inconsciente da chuva, e Juanito o gigante de coração mole, pudessem treinar junto com o time do Foot Ball. E, claro, para beberem no bar e refazerem-se do seu dia de Sofrimento.
            A teimosia estava no sangue dos Espanhóis, a esperança, nos rostos dos italianos e o conformismo, no semblante dos noruegueses.
            E a raiva em cada fibra do ser de Facundo Mengalv Sobrinho Segundo, bufava, passava o dia a remoer raivas, aumentou o preço para que pudessem idolatrar o seu pé direito, e muitos o consideravam ainda mais santo pois podia ter várias formas, como os santos, já outros defendiam que o demônio também tinha várias formas, o fato era que, ele, sendo homem ou o que quer que fosse naquele momento, já não agüentava mais a falação em torno da sua pessoa, irritado e aos berros mandou mandar chamar Magalhães:
            - Sabe por que merda o seu maldito invento não sumiu? – Ante o silêncio de Magalhães respondeu:
            - Porque finalmente não temos mais cinco anos de atraso, está na hora de ajeitar toda esta porra!

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